No universo nosso de cada dia existe algo chamado Uber. Se nos anos noventa era chique andar de táxi, principalmente se ele fosse daqueles amarelos como nos filmes de televisão, atualmente estamos rodeados de carros de todas as cores, sendo guiados pelos famosos motoristas de Uber. E se existe um local onde as pessoas gostam de conversar, esse lugar é dentro do carro, de uma pessoa que provavelmente você não irá mais ver em sua vida. O ser humano gosta de falar, alguns mais que os outros, mas em sua maioria, gente gosta de gente. E se os homens já tinham os barbeiros e as mulheres as manicures como ponto de fofoca, chegamos ao Uber, onde todo dia existe uma conversa para ser compartilhada.
Essa crônica vai falar como sempre de mim mesmo, das minhas poucas, porém, existentes conversas dentro de um Uber. Nunca entrei no mesmo carro com o mesmo motorista duas vezes, não sei se alguém já passou por isso. Mas no meu caso, cada nova viagem, é uma nova pessoa, um novo mundo e novas conversas. Me lembro de uma das primeiras vezes. Passei raiva, confesso. Motorista me deixou no lado contrário da estação de trem e me atrasou, pegando um trânsito danado. No final, acho que o erro foi meu mesmo, que coloquei o endereço errado. A conversa dentro do carro? Ainda tímido, poucas palavras. Mas conforme os anos foram passando, as perguntas da minha parte eram sempre as mesmas, "Mora aqui no ABC mesmo?", "Já errou o caminho pelo mapa?", "Hoje está rendendo?". A partir desse momento, uma linha de conversa era criada, e vários assuntos eram abordados. Você não acredita, mas um deles já me disse que levou passageiro para o lugar errado e largou ele lá mesmo, pois o erro foi dele. Cada um com seus problemas, não é mesmo?
Já encontrei com cada figura como motorista. Até no Rio de Janeiro encontrei alguns personagens do nosso Brasil de cada dia. Teve um deles que me disse que São Paulo era perigoso, logo depois em que vimos a policia passando com um fuzil pela janela. Sério que o perigo está entre os paulistas? E quando os motoristas cariocas inventavam de cortar caminho e passavam pelas comunidades que eu não conhecia. Eu sei, pode ser preconceito, mas o medo era muito real. Voltando para São Paulo, em uma das últimas viagens, eu com minha boca grande estava reclamando do Palmeiras, que o time havia perdido e a Mancha verde xingou o treinador Abel Ferreira. "Como assim, xingar o cara que mais venceu com o time?". O motorista era palmeirense e também estava nervoso, pois havíamos perdido em casa para nosso rival Corinthians. Foi ai que segui falando, "Você sabe né? A Mancha só xingou o Abel porque é contra a diretoria". Pois bem, o motorista me responde, "Eu estava lá xingando, sou da Mancha verde". Que mico, ou seria falta de prudencia? Será que poderia apanhar de alguém da organizada dentro de um Uber? Sei que você esperava por isso, mas não. seguimos falando de Palmeiras, Mancha verde e Abel Ferreira. Quando vi, a viagem acabou, e eu queria falar mais. Fica para a próxima, em mais uma viagem no nosso Uber de cada dia.


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