Desde criança sempre sonhei em ver uma Copa do mundo sendo disputada em nosso país. Imagine a minha alegria quando foi decidido que 2014 o torneio seria no Brasil. Seria sensacional ver nossa seleção ganhar a Copa e casa. Desde o ano anterior, na Copa das confederações, a torcida já fazia a festa nos estádios, apesar da bagunça politica e os inúmeros protestos que aconteciam em várias cidades. O clima no Brasil esquentava, e eu já estava com 27 anos, trabalhando em uma metalúrgica da qual gostava muito. Novamente aconteceu, acabei sendo demitido e adivinha só? Veria a Copa de casa. Não foi premeditado, não era a minha vontade, mas aconteceu, teria a oportunidade de estar com tempo livre para ver todos os jogos, e dessa vez, nos estádios nacionais.
Quatro anos depois, estávamos reunidos no mesmo lugar em que vimos o último jogo do Brasil na Copa de 2010, na casa do meu amigo Tiaguinho. E dessa vez eu tinha uma companhia, estava namorando e iria desfrutar do melhor torneio do mundo com a pessoa que amava. Voltando ao jogo da estreia, a casa do Tiaguinho estava lotada com os nossos amigos. E claro, o meu grito de guerra estava de volta, e lá estava na janela gritando "A Copa é nossa". A estreia, sempre aquela aflição e alegria, nos trouxe uma vitória da seleção brasileira contra a Croácia, com Neymar marcando dois gols. O jovem craque seria a nossa esperança, o nosso talento solitário em meio a jogadores pressionados e com medo de jogarem uma Copa no Brasil. Para a minha raiva, Felipão não levou Ronaldinho e nem Kaka, e assim tínhamos um Neymar tendo que resolver tudo sozinho. Contra o México e contra Camarões a mesma coisa, no mesmo lugar, vendo Neymar buscando resolver sozinho as partidas. E claro, seguia gritando "A Copa é nossa", mesmo já vendo que teríamos vida difícil com o seguir da carruagem.
O jogo contra o Chile pelas oitavas de final foi dramático, um empate em que por pouco não fomos eliminados. E que raiva na decisão dos pênaltis ver o nosso capitão Tiago Silva chorando em cima da bola. Era nítido que o time precisa de ajuda psicológica. Os pênaltis foram emocionante, e todos na cada do Tiaguinho comemoraram muito quando conseguimos a classificação. Nas quartas de final, lá estávamos reunidos em nossa base de jogos. Gritei os gols da nossa vitória contra a Colômbia e fiquei apreensivo quando Neymar teve suas costas acertadas. Algumas horas depois chegava a noticia de que Neymar estava fora da Copa. Para mim e para a maioria dos brasileiros o torneio acaba ali. Tipo, perdeu a graça, sem o nosso craque, o que poderíamos fazer? Ainda assim, a mesma galera que se reuniu na estreia estava junto novamente para a semi final contra a Alemanha. Mas o que vimos naquela tarde foi uma vergonha. Perdemos por sete a um. A cada gol, um momento de vergonha que no final virou tipo um "Ah, to nem ai". Somente com o passar dos anos fui entender o tamanho do resultado e o quanto isso impactaria os próximos anos da seleção. A Copa para o Brasil acabou com um quarto lugar, em mais uma derrota vexatória para a Holanda. Assisti e casa sozinho, já que não tinha mais sentido ver junto com a galera. A Copa do mundo em casa, em nosso país. Aquela que esperei com expectativas desde minha infância, terminou de forma vergonhosa e constrangedora.
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