Estou olhando para ela. Com os olhos fechados, mas estou olhando para ela. As vezes, Ralf acordava sonhando com a garota por quem se apaixonou quando tinha vinte anos. Hoje, aos trinta e cinco, já sabe que não ficou com ela. Mas ele também sabe que não consegue controlar aquilo que passa na sua mente. Mentira, ele sabe que consegue, mas não quer. Gosta de imaginar que está com ela, gosta de pensar que deram certo. Mas quando abre os olhos, é a realidade quem o encontra. Não que seja ruim a sua vida, não que não goste do que tem. Mas ainda assim, gostava de passear pelas ideias de sua mente.
Mais um dia, e Ralf se levanta para seguir o fluxo do seu dia, mas com aquela menina na sua mente. Ele se lembrava das conversas sobre tudo e sobre nada. Enquanto subia os degraus do ônibus tropeçou, estando com os olhos no dia em que viajaram juntos com a turma. De tudo o que aconteceu naqueles dias no interior, ficou registrado a foto que bateram juntos. Dois jovens, ainda solteiros, mas cheios de sonhos e desejo de futuro. Ralf não sabe se pode ser considerado uma pessoa bem sucedida e de metas alcançadas. Se tivesse com "ela", poderia vir a ser? Não, não é para tanto. Mas que gostava de navegar naquelas lembranças, ah como gostava.
- Eu vou conquistar a princesa do papai
Ralf se lembrava do dia em que disse essa frase para Manoela. Isso, esse era o nome dela. Ainda hoje Ralf e Manoela se falam e conversam. Ele não sabe o que passa na mente dela, mas sabe o que passa na dele. Desejo! Esses dias, Ralf estava imaginando uma viagem com ela.
Os dois conversavam na praia, estavam trabalhando juntos. Então, os dois iam embora para o hotel. Cada um ia para o seu quarto. No escuro, com um celular ligado, aparece uma notificação. Manoela o chama para conversar, pois perdeu o sono. Vale a pena ir lá? Ele vai, sempre vale a pena estar com ela. Ao chegar no quarto, conversam sobre o passado, mas logo, estão embrulhados debaixo das cobertas. Eles se amam, se abraçam. Ela o toca, do jeito que somente ela sabe fazer. Ralf beija seu pescoço, abraça ela forte e a ama como nunca amou. Como um raio, ele acordou e viu o céu cinza. Estava frio esses dias.
Ralf a vê em reuniões de amigos, festas de crianças e várias outras socialidades. Mas não adianta falar nada. A quinze anos atrás eles pegaram um ônibus juntos.
- Eu vou conquistar a princesa do papai.
Ele disse isso a ela naquele veiculo em movimento. Estava vazio, era um sábado a tarde e apenas algumas pessoas, a maioria idosa, estava ali como passageiros. Uma frase dita que acabou ficando no ar. Ralf nunca tentou essa conquista. Ele disse, esperou uma reação da Manoela. Nunca veio essa resposta, nunca teve um "Estou com dúvidas", "Vou analisar a proposta", "Também sinto algo por você". Não, nunca teve nada disso. Ralf seguiu a sua vida, Manoela a dela. Cada um casou, cada um teve filhos e cada um seguiu sua jornada
Ralf não sabe se ela pensa nele. Mas uma coisa ele sabe. Ralf segue viajando em sua mente. E é com Manoela.
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