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Um pedaço de madeira e aço

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O quadrinista Chabouté é um dos grandes nomes da arte de contar histórias através das HQs, e nessa obra ele consegue nos apresentar uma trama sensacional, sem ter balões de diálogos e sem que uma pessoa humana assuma o protagonismo do roteiro. Na verdade, o principal personagem desse quadrinho é um banco de madeira, que vive debaixo de uma arvore, onde as pessoas convivem, passam por ele, sentam e conversam. Ou seja, algo óbvio e que existe na rotina das pessoas acaba sendo um componente importante da vida de muitas pessoas. Aquele banco de madeira fica ali tomando chuva e sol, vendo as pessoas crescerem, com a vida acontecendo enquanto os humanos vivem o seu cotidiano. Em mais de trezentas páginas, vemos o banco se misturar com a vida das pessoas.


Durante as páginas apresentadas por Chabouté, vemos pessoas indo e vindo por aquele ambiente, com algumas delas interagindo com o banco, enquanto outros apenas passam por ele. Quantos de nós encaramos um banco de praça apenas como uma paisagem que faz parte da nossa visão, enquanto tantas outras se sentam ali e conversam, ou apenas descansam por alguns minutos. Me lembro bem de um banco que tenho perto de minha casa, e como ele foi um componente da minha vida. Ali tive conversas frustrantes, mas também momentos que ficaram sempre na minha memória. Até hoje passo por ele e me lembro daquela época, mesmo que hoje mesmo eu nem me sente nele. Chabouté consegue transmitir muito bem esses sentimentos. Ao longo da história vemos senhoras conversando, um mendigo que sempre usa o banco para dormir, para logo pela manhã vir a ser expulso pelo guarda da rua. É interessante que sempre tem um cachorro que mija no banco. Já nas primeira páginas vemos um casal de namorados que escrevem suas iniciais e um coração, que fica marcado naquele material de madeira.

Os dias seguem passando e percebemos que as pessoas repetem e repetem suas vidas e ações naquele bairro, como o trabalhador que sempre passa por ali no vai e vem direto da vida profissional, sem nunca parar para se sentar e descansar. É bonito vermos um casal de idosos que comem um pedaço de bolo juntos. Mais coisas acontecem, como um skatista usando o banco para fazer manobras. Alguém chega a pichar "Estupidez é infinita" no banco, que fica um contraste quando um homem senta ali com uma camisa escrita "A vida é uma festa". Jovens usam maconha, e quando se vão, um idoso experimenta a droga. A vida é movimento, mas para o banco parado, assiste a vida se movimentar. O tempo passa, vemos as estações e os anos passando. Finalmente o guarda se aposenta e passa ser amigo do mendigo, e um novo guarda tenta expulsá-los dali. Até mesmo o trabalhador se cansa, tira seus sapatos e passa a se divertir em cima do banco da praça. Por fim, empresários se reúnem e trocam o banco, mas as pessoas não gostam e deixam de se sentar nele, e até mesmo o cachorro desiste de mijar no local. A trama termina com o banco sendo vendido para um homem na rua. Quando ele leva para sua mulher e seu bebê, percebemos que era o mesmo casal que no começo da história havia desenhado suas iniciais e o coração. O tempo passou, mas o banco assistiu tudo, Um lindo fechamento e reencontro é que temos.

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