Todo dia é a mesma coisa, a mesma rotina, a mesma vida. Luan já sabe sobre cada passageiro do Trem. Na maioria dos dias as pessoas são sempre as mesmas. São os mesmos rostos buscando vencer na vida, buscando ganhar dinheiro e sustento para a família, além de ir e voltar em paz para a casa. Tem dias que são dificeis, dias de chuva, que faz com que haja alagamentos, empurra-empurra e muita demora para chegar em casa. Luan já passou por tudo isso, já são mais de quatro anos nessa vida, nos mais diversos horarios. Esses dias, Luan viu uma menina se machucando na porta e se cortando. Mas logo apareceu um bom homem, que com materiais de primeiro socorros cuidou da pessoa.
Mas coisas chatas também acontecem naquele mundo, são pessoas machucando outras com socos por um lugar no meio da multidão, são jovens que não se levantam para os mais velhos se sentarem, e sim, muitas e muitas brigas pelos mais diversos assuntos, sejam eles banais ou de alguma importância. Ontem mesmo Luan acabou se enfiando em uma situação desconfortável:
- Olha esse braço na minha cara - disse um cara mal encarado
- Relaxa que não vai encostar na sua cara não- respondeu
Outro dia um fato engraçado ocorreu. Luan estava ali dentro do Trem, depois de forçar passagem, conseguindo ficar bem apertado perto da porta. Quando tudo parecia resolvido, um homem quis entrar também e começou a forçar passagem. Um jogo de força, onde o homem forçava para entrar e Luan o forçava para sair.
- Não vai dar cara, tá cheio - comentou Luan
- Vai dar sim - e aquele homem forçou a entrada e conseguiu espaço - Não falei que dava.
E assim Luan ficou com cara de bobo. Tem dias que está tão lotado que ele resolve apelar, pegando um Elevador reservado para idosos, mas que só tem gente jovem querendo chegar mais rápido. Luan chega nele, mas começam a chegar muitas mulheres, que ficam olhando cobrando que ele saia, mas ele não sai, se faz de bobo e subindo no Elevador conseguem encontrar seu espaço. São coisas da rotina de quem pega Trem todo dia.
O dia a dia de quem pega Trem acaba tendo os famosos vendedores ambulantes. Em alguns momentos eles são chatos e irritantes com tanta gritaria, mas em outros acabam por salvar o dia com aquele salgadinho para matar a fome da galera. Outro dia Luan até pensou em largar tudo e virar um deles.
- Cara, trabalho a hora que quero e ganho mais do que quando trabalhava em Fábrica - disse um deles para Luan
- Sério? Desse jeito largo tudo e me uno a vocês - brincou Luan
- Não é assim tão fácil juvenil. Tem que ter o jeito sabe? Ter o jeito.
E assim Luan segue a vida, indo e voltando, já sabendo só de olhar aqueles que estão cansados, aqueles que estão felizes e os que querem sair correndo dali. Ele vive dizendo que o que mais o irrita é aquele povo que fica com Celular na mão subindo a escada, atrapalhando o movimento. Mas vai fazer o que? O povo hoje em dia vive grudado na tela do Celular. Se ele bater uma foto dentro do vagão só vai ver cabeças baixas, olhando para a telinha do pequeno aparelho.
Para terminar, o momento mais legal da viagem é sair do Trem no retorno para casa, olhando para o céu com aquele sensação de dever cumprido. Olhando ao redor consegue enxergar os mesmos rostos de satisfação, menos daqueles que vão para uma outra jornada, a Faculdade. Algo que Luan já viveu e hoje não vive mais. Saindo da Estação, encontra seu amigo dono do carrinho de Hot-Dog.
- Como foi o dia Seu Luan? - sempre a mesma pergunta
- Foi bom Seu Pedro. Desgastante, mas graças a Deus estou indo para casa.
- É vida de gente grande Seu Luan. Só pra quem é forte
- Eu que sei Seu Pedro - e se despedindo vai indo para casa após o fim de mais um dia.
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