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O show da banda que eu não fui

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Aquele lugar estava lotado, desde a fila até as lanchonetes em volta do estádio. A minha banda favorita iria tocar. Esperei por anos para ir naquele show. Eles já tinham vindo outras duas vezes para a cidade. Uma delas eu era muito novo e minha mãe não deixou, enquanto a outra eu estava sem dinheiro. Mas desta vez eu estaria ali, eu iria pular junto com a galera, eu iria cantar todas as músicas juntos. Ia ser demais, sim iria, se o meu chefe estivesse me liberado, se os boletos estivessem pagos e se eu não estivesse atrasado com as metas do trabalho. Pois é, e ali estava eu, vendo meus amigos postarem fotos do show nas redes sociais, outros perguntando o por que da minha ausência e outros dando graças por mim não ter ido, pois iriam assim se gabar do show que eu não fui.


E assim seguiu a minha noite, preenchendo relatórios, montando tabelas e produzindo resultados. Meus amigos, ah, eles estavam lá pulando e cantando muito todas as músicas que EU QUERIA cantar. Enquanto trabalhava ficava imaginando aquilo que estava acontecendo no show. O Michael Plant entrando com toda energia e enrolando no português para tentar ser simpático com o público. Então ele e a sua banda tocariam três primeiras músicas para arrebentar com tudo, músicas agitadas e conhecidas que fariam a galera se agitar como nunca. Eu estava ali também agitado, e para melhorar resolvir colocar os fones de ouvidos para me concentrar. Nada de rock para não me dar tristeza por estar no show, resolvi me embalar com músicas MPB, para ver se ficava um pouco mais leve. Adiantou? Claro que não né.

De repente, para azucrinar a minha mente meu telefone toca. Era mensagem dos amiguinhos me avisando que a música que eu mais gosto iria tocar. Valeu mesmo pessoal, amigo é para essas coisas mesmo. O trampo ia me levando a me concentrar mais, a música no fone começava a me acalmar e tudo parecia que iria entrar no automático. Parecia, só parecia, porque olha só, no meio das minhas músicas veio uma mo Michael Plant e sua banda, daquela mesmo que eu não fui. Depois de mais três horas terminei tudo, me despedi dos outros moribundos que trabalhavam naquele horario e fui para casa. No caminho fiquei pensando em como estaria o show, quando percebi que não valia mais a pena pensar nisso, o negócio era viver aquela minha caminhada mesmo. E caminhando, resolvi também colocar para tocar no meu celular as músicas da minha banda favorita. Fiz meu show ali mesmo, cantei junto, dei alguns pulinhos e até acho que passei vergonha na rua. Tudo bem, estava feliz, e segui até em casa. Eu, meus fones, meu celular e minhas músicas favoritas, daquela banda que não fui no show. Ah, chega de ruminar. Eu, meus fones, meu celular e as músicas da minha banda favorita!

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