Oi Díário tudo jóia? Sim, faz um bom tempo que não escrevo. Esses dias tem disso difíceis aqui no Hospital, com uma correria como eu não via desde o meu tempo de residente. Lembra daqueles dias? Eu dormia mal, comia rápido, mas ainda assim tinha muita paixão por exercer a profissão. Naquele tempo eu mal sabia o que queria. Em uma semana queria ser Cardiologista, na outra Psiquiatra. Mas o mais importante, eu queria ser o melhor da minha profissão. Os anos se passaram e o trabalho aumentou. Não vivo mais as loucas horas daqueles dias de plantão, mas ainda tenho noites tensas e estressantes. Esses dias apareceu uma mulher nervosa para ser atendida e com o marido querendo bater nos enfermeiros. Tudo por causa de uma dor de barriga. Mas já falei, o pronto socorro é só para emergência e não para casos desse tipo. Pior são os dias que aparecem aquele que só querem um atestado médico. Ah, me da uma vontade de dar uma injeção na testa deles.
Para avisar você Diário, saiba que continuo dormindo naquele quartinho do hospital. Aquelas longas cirurgias tiram o nosso fôlego, não é fácil não. Mas sabe o que mais dói? Quando não conseguimos vencer a dor do paciente, quando perdemos para a doença. O dia para, o vento para de soprar e eu só quero chorar. O que fiz de errado? O que eu poderia fazer para salvá-lo? Mas um dia percebi que não adianta muito se lamentar, pois como médico não possuo controle da vida, isso é com Deus. Sou apenas uma ferramenta, sou as mãos que servem para salvar uma vida, mas não para controlar a pessoa. Isso aprendi com os anos, com as percas. Mas quero que saiba Diário, que tem dias muito prazerosos. É muito bom ouvir o choro do recém nascido, a festa da família ao ver a recuperação do paciente. Como médico tenho que agradecer todo dia, pois todo dia vejo algo diferente, tenho a consciência da vida e da morte, e respeito pelas pessoas. Mas Diário, agora tenho que sair correndo, o meu Bipe está tocando me chamando para a sala de cirurgia.
Adorei o tom intimista e confessional.
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