Incrível como tudo passa rápido. Outro dia estavam juntos conversando, falando de planos para o futuro, sonhavam com suas conquistas e não escondiam segredos um do outro. Eles diziam que amizade era um presente de Deus, que aquele que encontra um amigo encontrava uma dádiva do céu. Jorge e Manoel eram quase irmãos, grudados desde o dia que tinham doze anos. Mas no dia de hoje, com um céu nublado e uma garoa que demorava para passar, havia apenas lembranças na mente dele. Memórias iam e viam em um dia como esse, sendo inevitável deixar de pensar em como as coisas são rápidas e transitórias.
Certa vez, Jorge e Manoel apostaram para ver quem conseguiria conquistar Maria, a garota mais linda do bairro. Olhos castanhos, cabelo ruivo e um corpo farto em atributos. O que poderia ter sido uma guerra entre os dois acabou se tornando um fiasco, já que nenhum dos dois conseguiu a gata. Ela era areia demais para o caminhão deles, mesmo se fizessem a viagem juntos, mesmo se fosse várias vezes. Não dava, eles não conseguiriam conquistar Maria. Ao fim do dia, deram risadas, já que olhavam um para o outro e viam como eram feios e sem nenhuma lábia para conquistar a garota. Mas enquanto a chuva caia cada vez mais forte, molhando a roupa da maioria das pessoas, tudo se tornava apenas uma memória de algo que ficou para trás. As gotas de chuva caiam, e o trazia de volta para a realidade, ainda que ela não fosse aquilo que ele gostaria de ver.
Ele sentia uma dor forte no corpo, uma angustia que não passava. Ele nunca havia sentido isso na vida antes. Não dava para definir o sentimento, ele apenas estava ali, e não era nada bom. Vestido de preto, como manda o protocolo, sabia que não seria fácil seguir a vida com esse vazio e aperto no peito. O que Jorge lhe diria se o visse assim tão abatido e com lágrimas que se misturavam com a chuva? Claro que o Jorge iria dar risada, com certeza. Tudo estava tão sério, e o amigo era uma pessoa que não levava as coisas tão a sério. Chegou então o momento de dizer as palavras finais da cerimônia fúnebre. Júlio, que conhecia tanto Jorge como também Manoel, subiu e falou de forma triste e com muitas saudades, daqueles dois amigos que morreram no acidente de carro. Enquanto isso, a chuva caia sem parar.
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