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P. A Entrevista #22 - Wellington Amorim

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Para iniciar a semana vamos entrevistar alguém que tem buscado realizar a sua arte através do mundo do cinema. Wellington Amorim Faz curta metragens, diretor da empresa Raízes e é estudante de Comunicação social na Universidade Anhembi Morumbi. Nessa entrevista ele fala sobre a sua arte e também sobre cultura negra e racismo na nossa sociedade.


1-) Como surgiu a sua paixão pelo cinema?
Na verdade eu não gostava de cinema. Na adolescência tinha um sonho de ser jogador de futebol um dia, porém por conta da pouca habilidade que eu tinha, acabei desistindo. Como era muito apaixonado por futebol me surgiu a grande ideia: vou trabalhar na profissão que mais fica próximo aos jogadores sem precisar saber jogar. Assim surgiu o sonho que carreguei até o ensino médio de ser jornalista esportivo. No ensino médio passei a estudar um curso de produção de áudio e vídeo, onde eu comecei a conhecer o cinema e me interessar bastante pela câmera, assim fui literalmente fisgado pelo cinema. Percebi que podia contar as minhas historias de forma diferente do que estava acostumado a ver nas grandes salas e sim, isso também é cinema. É independente, é comunitário, é representativo e periférico.

2-) Por que filmar curta metragens? Quais são as suas maiores dificuldades em filmar um curta?
A grande questão de rodar muitos curtas metragens passa principalmente pela elitização dos meios de produção audiovisual. Fazer cinema é caro e quando você é um jovem pobre morador da periferia, os caminhos para se começar a produzir não passa por uma trajetória diferente de começar pelos curta metragens. A grande dificuldade é colocar o universo que quero, minhas angustias, pensamentos e criticas em um tempo muito curto e pra além disso as próprias questões de produzir sem grana. Uma boa lente, um bom computador para editar, um equipamento de áudio bacana. Tudo isso é importante na hora de produzir e por vezes se torna a grande dificuldade. É comum eu publicar no meu Facebook: "boa tarde galera, estou atrás de pessoas bacanas que possam me emprestar determinada lente para gravar no próximo final de semana, pago com um filme lindo que traz a representatividade da negritude como tema". Costuma funcionar bem esse esquema de escambo.

3-) Como você enxerga o mercado de cinema no Brasil hoje?
Muito se produz no Brasil, mas pouco do que produzimos é assistido pelos expectadores que vão ao cinema. Ainda existe aquele grande paradigma de que filme brasileiro é ruim, não é que não seja, a questão é que filme brasileiro não é só aquele produzido pela Globo filmes. Em 2016 batemos recorde de bilheteria dos filmes nacionais, entretanto esse número ainda é pequeno comparado com os números de filmes estrangeiros no Brasil. Tudo isso dentro da cena comercial, na qual nem eu estou inserido e é muito das vezes o único conteúdo cinematográfico que as pessoas acessam. Então o mercado de cinema vem num processo de democratização da produção por conta do avanço da tecnologia que barateia partes do processos, mas ainda assim é uma área muito elitizada, como podemos comprovar se analisarmos o custo médio de uma graduação em cinema.

4-) Ainda existe racismo no Brasil? De quais forma ele se manisfesta?
Não só existe como ele é cotidianamente reverberado na sociedade. Quando temos um padrão de beleza que vai contra toda cultura negra, isso é racismo. Quando um jovem é parado ou assassinado nas ruas pelo simples fato de ser negro, é a maquina de extermínio do estado racista e genocida em ação. Quando temos a historia do povo negro contada apenas com o discurso de "escravos que foram trazidos para o Brasil", isso é racismo. Poderia passar horas citando como ele se manifesta na sociedade, porque isso ocorre em quase todos os espaços. Quando vemos a população negra em espaços precarizados da sociedades não é a toa, são os rastros deixados por esse processo de apagamento e embranquecimento da historia do negro no Brasil. Legado de 400 anos de escravidão no Brasil que não serão superados em décadas, ainda mais quando nos entendemos enquanto sujeitos explorados pelo sistema capitalista.

5-) De quais maneiras você enxerga que a cultura negra pode ser mais divulgada e apresentada na sociedade?
Acredito que um grande passo para cultura negra ser divulgada passa por iniciativas como essa divulgação, mas isso não basta, a luta se inicia muito antes da divulgação, vem da necessidade de resgatar a preservar a cultura negra. A historia do povo negro não é contada e tão pouco ensinada. Fazer funcionar politicas públicas antirracistas são fundamentais para que a nossa cultura sobreviva e que se coloque em questionamento as estruturas da sociedade que impedem que isso aconteça de forma natural. Fazer isso é questionar todos os privilégios dos brancos na sociedade, destruindo um a um, sem fetichização da dança, do corpo, da linguagem, das tradições e tc do povo negro. Tendo isso como base, conseguimos começar a pensar mais em como apresentar ela para a sociedade, pois hoje a nossa cultura é sinônimo de resistência.

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