O P.A Entrevista da semana é com Tiago Garros, um cara que tem navegado por mares que poucos navegam, o mundo da Ciência. Ele é pesquisador na área da interface entre as ciências naturais e religião, além de ser colaborador da Associação brasileira de cristãos na Ciência. Tiago também é mestre em Teologia e atual doutorando, ou seja, estudar é com ele mesmo. Vamos a entrevista:
1-) Por
que você escolheu estudar Teologia e também Letras?
Na verdade eu sou formado em Ciências Biológicas, mas desde 2001, quando voltei ao Brasil depois de um ano e meio morando entre EUA e Canadá, eu dou aulas de inglês. Também já dei aulas de Biologia e Ciências em escolas, mas sempre fui levando o inglês ao lado, trabalhando em cursinhos de inglês, cursos pra concursos, pré-vestibulares e escolas. Num determinado momento estava vivendo mais de inglês do que de Biologia, aí resolvi entrar na faculdade de Letras, na UFRGS. Fiz várias cadeiras, mas não cheguei a me formar, por que logo arrumei um emprego dando aulas de Biologia de novo... Tudo isso foi antes de eu me dedicar a vida acadêmica em Teologia, quando comecei no mestrado em 2012. Hoje estou no último ano do doutorado em Teologia, estudando a interface entre Ciências Naturais e Religião.
Na verdade eu sou formado em Ciências Biológicas, mas desde 2001, quando voltei ao Brasil depois de um ano e meio morando entre EUA e Canadá, eu dou aulas de inglês. Também já dei aulas de Biologia e Ciências em escolas, mas sempre fui levando o inglês ao lado, trabalhando em cursinhos de inglês, cursos pra concursos, pré-vestibulares e escolas. Num determinado momento estava vivendo mais de inglês do que de Biologia, aí resolvi entrar na faculdade de Letras, na UFRGS. Fiz várias cadeiras, mas não cheguei a me formar, por que logo arrumei um emprego dando aulas de Biologia de novo... Tudo isso foi antes de eu me dedicar a vida acadêmica em Teologia, quando comecei no mestrado em 2012. Hoje estou no último ano do doutorado em Teologia, estudando a interface entre Ciências Naturais e Religião.
2-)
Qual o motivo de tanta discussão entre a religião e a ciência?
O
principal motivo é que existe uma narrativa popular, amplamente aceita pelas
pessoas, de que há um conflito intrínseco entre as duas áreas, de que as duas
áreas competem pelo mesmo espaço, de que você precisa escolher entre a religião
ou a ciência para explicar as coisas, ou mesmo não pode ser um cientista e um
cristão ao mesmo tempo. O problema é que esta é uma falsa dicotomia, que ignora
uma porção de coisas, a começar pela história. O cristianismo esteve
profundamente envolvido no surgimento da ciência moderna no Séc. XVII. Há quem
diga que se não fosse o ambiente intelectual cristão não haveria ciência
moderna, ou ela seria muito diferente. Vários dos “pais da ciência” eram
cristãos convictos, comprometidos, e a tarefa da ciência era justamente
compreender a mente de Deus, o criador, e a sua criação. A narrativa do conflito entre ciência e
religião é uma invenção tardia, do séc. XIX, e hoje os historiadores da ciência
são unânimes em apontar os dois autores tidos como maiores responsáveis pela
divulgação desse mito de que ciência e religião estão e sempre estiveram em
conflito: John William Draper com seu livro “History
of the Conflict between Religion and Science” (1874) e Andrew Dickson
White, com o “A History of the Warfare of
Science with Theology in Christendom”. Recentemente, o movimento conhecido
como Neo-ateísmo, do célebre autor Richard Dawkins, também tem contribuído
muito para propagar este mito do conflito. E, é claro, uma briga em que sai
sangue e faísca sempre vai vender mais livros, jornais e revistas do que
iniciativas de diálogo e conciliação.
3-) Como
a Ciência tem encarado e buscado outras formas de vida em outros planetas?
Esta
pergunta provavelmente é motivada porque recentemente eu publiquei um artigo
numa revista acadêmica sobre a “astroteologia”, que é uma área muito nova que
investiga as implicações teológicas caso seja descoberta vida fora do planeta
Terra. Pois bem... Eu me interessei por este assunto pois fiz parte da primeira
turma universitária brasileira a estudar a área chamada de Exobiologia (ou
Astrobiologia), quando o curso de Biologia da UFRGS lançou esta cadeira em
2004. A área da Astrobiologia é o estudo sério e científico da busca por vida
extraterreste no universo, e é bom deixar claro desde o início que isso não tem
absolutamente nada a ver com Ufologia, OVNIS, e etc. A Astrobiologia parte do
pressuposto que se a vida surgiu no Planeta Terra ela pode ter surgido também
em outros planetas ou luas do universo, ou mesmo do nosso sistema solar. Porque
isso é uma hipótese possível, essa área multidisciplinar estuda, em primeiro
lugar, possíveis lugares que seriam adequados para abrigar vida, por isso
procuramos por planetas parecidos com a Terra, que tenham água líquida. Esse
estudo é feito a partir da terra, com os instrumentos da astronomia, e também
com sondas que nós enviamos para outros planetas e luas, como aqueles
robozinhos que todos conhecem que estão em Marte. Há outros robôs lançados, por
exemplo um em Titan, que é a maior lua de Saturno. A astrobiologia trabalha em
primeiro lugar com a possibilidade de vida microbiana, que acredita-se ser
muito mais fácil de surgir do que vida inteligente. No entanto, há também iniciativas
de busca por vida inteligente, como as do Projeto SETI, que usa
radiotelescópios para tentar “ouvir” possíveis sinais de rádio sendo emitidos
por civilizações inteligentes ao redor
da galáxia, da mesma forma que nós enviamos sinais pro universo (cada vez que
você escuta uma rádio, por exemplo, está escutando uma onda que está sendo
transmitida também pro espaço.) O filme “Contato”, com Jodie Foster, baseado no
livro de Carl Sagan, mostra bem como isso funciona.
Uma coisa
importante a ser destacada é que, até agora, para a ciência, não há evidência de que haja qualquer outra
forma de vida fora do nosso planeta. Mas já sabemos de mais de 2 mil planetas
parecidos com a Terra fora do sistema solar que teriam condições teóricas de
abrigar vida.
4-) O
cristianismo está preparado para os ETs?
Este é o
título do meu artigo, e pra uma resposta mais completa, sugiro a leitura dele aqui. Participei também de um podcast
bem legal em que falamos sobre estes assuntos, e você pode escutar aqui. Resumindo,
eu divido a questão em duas partes. A
primeira é que provavelmente a vida que descobriremos em breve é a vida
extraterrestre não inteligente, ou seja, microbiana. Bactérias alienígenas.
Esta descoberta provavelmente não terá um impacto tão grande, embora na minha
opinião, deveria ter, pois amplia em muito a noção que temos de Criação divina,
e pode suscitar perguntas interessantes. Mas a descoberta que todos querem, e
muitos temem, é a de se descobrirmos civilizações alienígenas, seres
inteligentes. Aí a coisa complica, pois só o que podemos fazer é supor. Tudo
depende de que tipo são eles. Conseguiremos nos comunicar? Teriam eles a nossa racionalidade?
Só podemos imaginar essas coisas. Mas no artigo eu cito um achado interessante.
Trata-se de uma pesquisa feita nos EUA com pessoas das mais diversas religiões
(ateus também), que investiga qual seria o impacto pras religiões tradicionais
caso vida inteligente extra-terrestre fosse descoberta. A maioria das pessoas
acredita na popular tese de que as religiões tradicionais seriam extintas caso
este “contato” fosse confirmado. Então o pesquisador chamado Ted Peters
resolveu testar essa crença. O achado da pesquisa é que pra imensa maioria
(mais de 90%) dos religiosos de todas as tradições cristãs pesquisadas, o
cristianismo se adaptaria, como já se adaptou tantas vezes frente à várias
descobertas científicas. Então, resumindo, eu acredito que sim, haveria um
impacto grande no cristianismo caso houvesse confirmação de que existem
civilizações inteligentes, mas isso não significaria de forma alguma o fim das
religiões ou do cristianismo. Ele certamente se adaptaria. Mas claro, tudo
depende se for apenas uma confirmação da existência ou um real contato com
comunicação e etc. Nesse caso, é muito difícil imaginar os milhões de cenários
possíveis.
5-) Qual
a importância dos estudos na sua vida? E por que tantos cristãos investem tão
pouco em suas formações profissionais?
Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa, sempre quis saber como as coisas
funcionam, por que tal coisa é assim e etc. Então sempre fiz muitas perguntas,
e muito cedo descobri que os livros poderiam trazer essas respostas. Então
sempre gostei de ler para aprender, porque nada me é mais prazeroso do que
saber mais coisas sobre as coisas. Estou realizando um grande sonho agora, que
é ganhar algum dinheiro – pouco, é verdade -
para estudar (sou bolsista do CNPq). O fato de saber inglês pra mim foi
fundamental, porque, lamento informar, mas o mundo é em inglês. A quantidade de
recursos disponível por aí em inglês é infinitamente superior ao que tem em
português ou outra língua qualquer. Então, se eu pudesse dar uma dica sobre o
que estudar em primeiro lugar, eu diria pra aprender inglês, porque as portas
se abrem demais pra quem domina o idioma.
Acho que o problema de os cristãos não se interessarem muito por estudos em
geral tem a ver com a dicotomia de que falamos na primeira pergunta. Muita
gente acha que saber mais sobre as coisas vai te afastar de Deus. Fico muito
triste quando vejo gente que pensa assim, e penso que o deus delas é muito
pequeno. Por que se ele é Deus mesmo, nos dotou dessas faculdades como o
raciocínio justamente para conhecermos mais a Ele e sua criação. Estudar honra
a Deus, pois foi Ele quem deu esta capacidade para nós. E cada coisa nova que
aprendemos sobre o mundo e a realidade é um ato de louvor e adoração, pois há
tanta beleza e complexidade neste mundo que ele criou, que penso que é um
privilégio muito grande ele nos dotar com a capacidade de entender essas coisas
da sua criação. Não há porque ter medo de estudar e se aprofundar em nenhuma
área, pois todas as áreas estão sob o senhorio de Cristo, pois dele, por ele e
para ele são todas as coisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário