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O colega chato

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Flavio termina mais um dia de trabalho, na vida louca de São Paulo ele não vê a hora de chegar em casa. Sim, quem trabalha pegando Trem, Metro e Ônibus não vê a hora de chegar em casa, comer a sua comida e ir dormir. Mas Flavio estava preocupado, pois a sua viagem tão sossegada de volta esta comprometida, já que fazia duas semanas que ele conheceu Caio, o mais novo funcionário da empresa. Até ai tudo bem, cara novo, empolgado, com vontade de trabalhar. O único problema é que ele morava perto de Flavio, o que significa que ele iria acompanhá-lo por toda a viagem. Acabou o fone de ouvido e suas musicas, acabou os pensamentos na vida durante o caminho. Por que? Ah, o tal Caio não cala a boca, fala o caminho todo, assuntos chatos ou no momento errado.

Flavio se levanta da cadeira e até tenta sair correndo e ir na frente dele, mas pegaria mal, ele ficaria mal falado até entre os outros. Preocupante? Nem tanto, mas melhor evitar. Flavio também pensou em ficar um tempo a mais, inventar uma desculpa e ir sozinho depois. Mas não valeria a pena, chegaria mais tarde, perderia as conversas com a esposa que já estaria com sono e pronta para dormir, perderia as noites de futebol de quarta. Quem trouxe esse cara? Precisava morar perto de casa? Pior, precisava falar tanto? Durante o caminho Caio falava do futebol, falava do trabalho, falava da família, falava dos amigos, falava, falava, falava tanto que acho que até você mesmo já cansou também.


Não tinha jeito, Flavio tinha que enfrentar o camarada chato. Foi só se levantar da cadeira que Caio já estava ali esperando por ele com aquele sorriso no rosto de fim de expediente. Mas quem consegue sorrir assim depois de um dia de trabalho? E ainda tem assunto para mais uma hora de viagem. Flavio foi para o Ônibus e Caio já começava a falar sobre como tinha sido o seu dia.

- Nossa cara, hoje o dia foi Punk, atendi cada ligação.

- É, que coisa - respondia Flavio sem ânimo, pensando no livro que não poderia ler no Metrô.

- E seu time em Flavio, esse ano vai.

-É, vai sim. Tem que ganhar.

E durante o caminho até entrar no Metrô, vinha mais bla, bla, bla. Flavio pensava em maneiras de acabar com aquela tortura, mas não queria ser desagradável com Caio, então fazia cara de paisagem fingindo que estava gostando da conversa. Flavio gostava de conversar, gostava de ter amigos, mas não gostava de gente chata, de gente grudenta. Assim era Caio. Seria carência o problema dele? Falta de ter com quem conversar? Difícil achar uma resposta.

- E ai Flavio como foi seu dia la no seu setor?

Sério que ele quer saber isso? Pensava Flavio. Depois de uma resposta seca a conversa continuava. Se é que podemos chamar de conversa quando apenas uma pessoa fala.

- Nossa hoje o Metrô esta devagar em. Deve ter acontecido alguma coisa em outra estação.

Cala a boca Caio, cala a boca. Os pensamentos de Flavio contra aquela situação não parava, e não ter o que fazer piorava a situação. O pior era pensar que seria assim todos os dias. Flavio então criou coragem, abriu a sua mochila e pegou um livro para ler. Dessa vez não se importou se Caio ficaria ofendido, ele só queria poder ter prazer no retorno para casa. Abriu o livro e começou a ler. Parecia ter funcionado, Caio ficou quieto por cinco minutos, mas deve ter ficado muito agoniado, inquieto pelo silêncio e então veio a falar.

- Nossa cara que livro legal. Mario Sergio Cortella? Já te falei das palestras que assisti dele? E os videos do You tube? Já assistiu?

Não teve jeito, Caio falou o caminho inteiro, ele sempre arrumava assunto, não se importava se você queria ficar quieto, ele queria falar e falar. Flavio desceu para poder ir embora para casa, sem conseguir ler o livro, sem conseguir ouvir seu podcast favorito. Agora é esperar o dia de amanhã e tentar aguentar mais um dia do lado do seu colega chato.

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