Era uma nova manhã, um dia ensolarado, mas ele tinha medo. Ao se levantar tinha medo de cair na cozinha, sem saber se estava com fome ou se estava passando mal. Estava na hora de ir trabalhar, mas um medo tomava conta dele, era algo que o assaltava de uma forma inesperada. Tinha medo das brincadeiras dos colegas, tinha medo de perder a condução, tinha medo do Ônibus quebrar, do chefe brigar com ele, medo de ser mandado embora e ficar sem emprego. Dessa forma o medo assumia um novo ciclo, pois tinha medo de desempregado ficar na sarjeta, sem nunca arrumar um emprego de novo, na fila eterna das agências da cidade.
O pior foi quando ele começou a gostar da Bruna, pois mesmo muito apaixonado tinha medo de ir conversar com ela. Tinha medo de levar um fora, medo de gaguejar, medo de não ser correspondido. O pior é se ela realmente gostasse dele e quisesse algo a mais. Ele tinha medo de se relacionar, de dar presentes, de conversar, de não ser tudo aquilo que ela esperava. Acreditava que se relacionar era um problema, pois ele tinha medo de tudo dar errado e não ser tudo aquilo que ela esperava que ele fosse. Os amigos riam desse medo, a família mandava ele procurar um médico, o patrão não aguentando mais tanto medo estava louco para mandá-lo para a rua.
E quando ele ia no médico? Não tinha jeito, era um problema sempre. Não podia ver os aventais brancos que já queria sair correndo dali. Injeção? Desmaiava só de ver. Tirar sangue? Só de olhos vendados e querendo sair de la para tomar Soro. Uma vez ele teve que arrancar um dente, mas quase arrancou os nervos do dentista que não aguentava tanto medo do paciente. A vida não era fácil para esse homem, que não vivia, apenas sobrevivia a cada dia que passava. Sempre achava que estava sendo perseguido, que estava doente, que estava nas últimas. Acontece que o medo de semanas se transformou em anos, e depois virou décadas o perseguindo até a sua velhice.
Quando velho achava que todos queriam roubar o seu dinheiro, não deixava o número da sua conta com ninguém. Odiava as crianças jogando bola na rua, porque elas poderiam quebrar o seu portão, além de também ter medo de ser machucado por elas. Medo de morrer ele tinha muito, mas também tinha medo de viver, pois durante toda a vida nunca aprendeu o que era viver, o que era sorrir, pois sorrindo ficava desatento aos perigos da vida. Esqueceu de viver, esqueceu de sonhar, esqueceu de conquistar. Viveu acusado, viveu com medo, viveu sem viver. Conhecido apenas como um homem que tinha medo!
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