Eram apenas duas crianças, viviam
a vida de cidade grande, enquanto os pais trabalhavam o dia inteiro só restavam
a eles a televisão para assistir o dia inteiro. Raul e Marcos tinham dois anos
de diferença um para o outro. Raul por ser o mais velho queria impor suas
exigências e desejos, mas aos poucos Marcos começava a enfrentá-lo.
- Eu quero assistir futebol –
dizia Raul
- Não, eu quero ver desenho –
respondia Marcos
Pronto, era briga para o dia
inteiro. A empregada ficava maluca com os dois, pois um avançava no outro,
puxavam cabelo, davam socos e se empurravam. Mas era sempre assim, brigavam em
um dia e já estavam conversando no dia seguinte. “é coisa de criança” dizia a
avó. Mal sabia ela o que estava dizendo.
Na adolescência Raul e Marcos
gostavam da mesma garota. Bianca era encantadora, gostava de conversar com os
dois, mas acabou escolhendo Marcos, para desespero e raiva de Raul. Ficaram
desta vez semanas sem se falarem.
- Você sabia que eu gostava dela
Marcos.
- O que eu posso fazer? Ela
gostou de mim.
- Você é um traidor, não da para
confiar em você.
Quando estavam perto dos trinta
anos resolveram abrir uma empresa juntos. Raul estava mais calmo e aliviado por
Marcos não ter dado certo com Bianca. Agora estavam os dois casados e precisavam
demonstrar maturidade. Resolveram trabalhar com criação de sites, onde Raul
entrava com o talento e Marcos com o dinheiro. Até o dia em que a empresa
quebrou!
- A culpa é sua – disse Marcos –
não entregava o trabalho em dia para o cliente
- Você não sabe de nada, e nem
fazer nada e quer me criticar? Cala a boca
Depois de não darem certo
trabalhando juntos cada um seguiu a sua vida. Os dois tiveram filhos,
construíram boas famílias. Encontravam-se às vezes, mas a rivalidade estava
sempre presente. Desde a competição entre os filhos até para ver quem usaria
óculos primeiro, quem teria as primeiras rugas e quem se aposentaria primeiro.
Quando alcançaram a idade de
setenta anos, passavam os sábados jogando xadrez juntos. A rivalidade ainda era
grande. Os dois marcavam no papel quem ganhava mais, estudavam novas
estratégias e tiravam sarro um da cara do outro. As coisas eram mais fáceis,
pois já tinham construído uma ótima família e tudo agora se resumia a brigas
entre reis, peões e bispos em cima de um tabuleiro.
- Xeque – falou Marcos
- Não tão rápido irmãozinho.
Vamos continuar.
- Você não se rende nunca em
cara.
- Pois é, sempre precisei ensinar
para meu irmãozinho que desistir é a ultima saída.
- Que bom que aprendi. Xeque de
novo!
- Escapei! Que bom que agora mais
velhos brigamos menos do que antes.
- É sim. Mas as vezes a briga nos
mantinha vivos e acendia em nós uma vontade de crescer e buscar ser melhor.
- Pois é Marcos, valeu a pena
tudo isso. Talvez esse seja o significado de ser irmão.
- Não entendi.
- Brigar e voltar a se falar.
Torcer sempre e terminar a vida juntos, apesar de tudo.
- Concordo com você. Brigamos,
brigamos e sempre estivemos juntos.
- Isso ai irmãozinho. Xeque-mate!