Ninguém gosta de trabalhar,
ninguém mesmo, ainda que apareça algum engraçadinho falando que tem prazer no
trabalho, que o trabalho engrandece o homem, isso é tudo conversa. Existem dias
de estresse, dias em que você não quer ver ninguém, nem mesmo levantar da cama,
ainda mais ver aqueles velhos camaradas do dia a dia, que batalham junto
conosco, cada um buscando o que é seu, no caso dinheiro, lógico. E sério,
encontrar o Fabio naquele dia não seria legal, não mesmo, já fazia dias em que
não estávamos nos falando.
Começa o dia, olho para o
relógio, mas besteira, ele já estava gritando antes de me levantar, e eu ainda
vou quebrar esse celular que fica apitando um barulho chato avisando que eu
tenho que trabalhar, como se eu não soubesse. E assim vou eu, a rotina de
sempre, o mesmo ônibus, os mesmos passageiros, o mesmo sono de cada dia. Espero
que ninguém nunca me veja dormindo, não é uma boa visão logo assim tão cedo.
Entro na empresa, os mesmos “bom
dia”, o mesmo apertar de mão e o mesmo trabalho de cada dia, e ali esta ele: o
Fabio. Nós somos amigos, mas não estamos nos falando, e já faz alguns dias, e
isso, bem, isso é chato. Imagine só ficar sem falar com seu amigo, são anos de
amizade. E sabe o que é chato em uma amizade? Quando você vê o cara todo dia, e
o mais chato? Ele trabalha com você.
- Oi, bom dia – digo para ele
- Bom dia - ele me responde
Nós dois queríamos dizer mais,
queríamos falar do fim de semana, do que fizemos, das encrencas em que nos
metemos, dos gols do fim de semana, do nosso time que perdeu mais uma. São
tantas coisas, e a minha mente vai trabalhando assuntos para conversar, mas a
minha língua não se move e a minha boca não expressa nada. Deve ser esse meu
orgulho besta que não quer dar o braço a torcer. Mas o Fabio também não diz
nada, ele segue quieto, mas eu sei que ele esta louco para puxar assunto, nós
fazemos isso a três anos, mas não hoje, não agora.
- Me passa essa ferramenta – ele
me pede algo relacionado ao trabalho
- Beleza, ta na mão – muito pouco
para uma amizade, é meu pensamento
O dia vai passando, e olha só, a
manhã passa e nem percebemos, isso é uma mágica que acontece na vida daqueles
que trabalham o dia inteiro e acabam por não verem o tempo passar, e ele passa,
e como passa rápido. Neste passar de tempo, já são três anos, e são três anos
de amizade, e alguns dias sem falar nada. O motivo da briga? Nem me lembro, mas
não posso ceder, ele se quiser que peça desculpas, mas eu nem sei o que
desculpar, logo, nem sei por que estamos brigados. Coisa de amigo, mas esta
demorando para o silencio acabar, eu queria contar para ele da menina que estou
gostando, ah, tenho certeza que ele ficaria muito feliz em dar palpite e me
zoar, mas parece que não será hoje.
Chega o período da tarde, depois
daquele almoço gostoso, hoje no caso a bela e boa feijoada. Volto para o mesmo
lugar e o Fabio também. Pega a peça,
coloca na caixa, fecha a caixa e a deixa de canto para fazer a próxima. Achou
estranho? O nome disso é rotina. Agora faltam dez minutos para o fim do dia,
vou falar algo, puxar assunto. Ele pega as peças, eu pego a caixa, então ele coloca
as peças na caixa e chega a minha vez de fechá-la. As coisas não saem como o esperado. Fechei
errado, as peças ficaram tortas e então um inicio de risada surge na boca do
Fabio, e na minha também. Eu não falo nada, nem ele, mas nem precisa, somos
amigos e amigos se entendem, mesmo com uma risada.
- Falou, até amanha – ele me diz
na hora de embora
- Até amanhã- eu respondo.
Eu vou embora sabendo que amanhã
tem mais, e ele também sabe que amanhã tem mais. Mais caixas, mais peças, mais rotina
e mais risadas, ou seja, mais amizade!
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